Um músico terá dificuldade em conceituar a Música Popular Brasileira em uma resposta simples. A MPB, como é conhecida, abrange estilos musicais genuinamente brasileiros que se afastam dos padrões europeus e norte-americanos, incorporando também a musicalidade dos povos nativos e as influências africanas presentes na cultura do país. Nesta quinta-feira (17) é comemorado o Dia da Música Popular Brasileira. (Saiba mais sobre a data no final da reportagem).
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E um dos precursores desse estilo é o compositor e multi-instrumentista Hermeto Pascoal, hoje com 88 anos. Ele é conhecido por, além de suas obras, fazer música com objetos não-convencionais, como garrafas de água, brinquedos infantis e partes do corpo.
Em 2022, um morador de Bauru (SP), músico e amigo de Hermeto recebeu do compositor 50 partituras inéditas escritas à mão com canetas multicoloridas, as quais no ano seguinte, virariam um álbum: o Inéditas de Hermeto, contemplado por um edital do Programa de Ação Cultural (PROAC) do Governo do Estado de SP.
Paulo Maia nasceu em Araraquara (SP), mas mora em Bauru há mais de 15 anos. Em entrevista ao g1, o maestro, compositor, arranjador e pianista, que acumula 30 anos de carreira, contou que conheceu a obra de Hermeto através de uma fita cassete apresentada por seu irmão.
Um lado da fita trazia a apresentação de Elis Regina no Festival de Montreux, enquanto o outro lado era dedicado a Hermeto, ambos se apresentando no mesmo dia, em 1979.
“Foi alí que eu fui ter contato pela primeira vez com a obra do Hermeto. Ele fez um solo de escaleta, que é um teclado pequenininho e eu fui comprar uma e pensei como era possível ele tocar aquele tanto em um instrumento tão pequeno. Aí que eu fui me aprofundar na obra dele”, conta Paulo.
O músico começou a frequentar o Conservatório de Tatuí, ainda no começo dos anos 2000 para ter aulas com Andre Marques, que era pianista de Hermeto Pascoal na época.
Paulo chegou a realizar alguns contatos com o multi-instrumentista, mas nada muito próximo. Até que, por iniciativa própria, Paulo gravou algumas músicas de Hermeto de uma coletânea chamada “Calendário do Som”, que reúne 366 partituras inéditas, que nem sempre foram tocadas.
“Em 2010 eu comecei a gravar esse álbum sem pretensão nenhuma. Já gravei 75 e fui seguindo minha vida. Até que em 2014 eu mandei uma mensagem para a Aline Morena, mulher dele pelo Facebook e ela mostrou para ele. O que eu fiquei surpreso foi que ele já me conhecia, porque ela (Aline Morena) já tinha mostrado meu trabalho para ele, já que muitas músicas desse álbum ele nem ouviu ainda”, lembra o morador de Bauru.
Dali em diante, Paulo e Hermeto tiveram várias trocas de mensagens e encontros que construíram uma relação de amizade entre eles.
“Desse dia em diante, ele sempre me convida para fazermos turnês juntos. Já viajei em shows com ele e tendo essa intimidade com ele, ele é um cara muito generoso”, conta Paulo.
“Desse dia em diante, ele sempre me convida para fazermos turnês juntos. Já viajei em shows com ele e tendo essa intimidade com ele, ele é um cara muito generoso”, conta Paulo.
Partituras de presente
Em 2022, Paulo Maia foi surpreendido por uma encomenda de 50 partituras de presente de Hermeto. Obras inéditas, que o músico nunca havia ouvido, apenas escrito.
“Ele sempre me manda presentes. Uma vez ele me mandou um tênis com uma partitura escrita. E um dia ele me mandou essas partituras, disso eu fiz um projeto para o PROAC, acabei ganhando e gravando dez. Fizemos shows, turnês, e o álbum está disponível nas plataformas digitais”, diz.
O feedback de Hermeto Pascoal sobre o projeto, viabilizado em 2023, veio em forma de áudio e virou a primeira faixa do álbum. Confira:
As partituras são escritas em folhas avulsas, não pautadas e com canetas de várias cores. Paulo disponibilizou algumas delas ao g1. Confira:
Nesta semana, Paulo Maia foi o vencedor de um novo projeto submetido ao PROAC que deve começar a ser viabilizado a partir de 2025. Desta vez para gravar mais oito faixas do “Calendário do Som” de Hermeto.
Dia da Música Popular Brasileira
O Dia da Música Popular Brasileira (MPB) foi oficialmente instituído em 9 de maio de 2012, por um decreto da então presidente Dilma Rousseff, e é celebrado em 17 de outubro.
A data foi escolhida porque foi em um 17 de outubro que nasceu a compositora, pianista e maestrina carioca Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935), cuja obra é um dos pilares da música popular desenvolvida no Brasil ao longo do século XX.
Para Paulo Maia, a MPB é um estilo que engloba muitos outros, cabendo, por exemplo, o público da música de Hermeto Pascoal, nem sempre tão comercial, mas apreciada por muitos.
“Tem uma geração de músicos que é da música do Hermeto. Eu me incluo nessa, a gente conversa muito sobre isso. É uma música bem específica, mas eu posso falar que ele está vivendo o auge da popularidade dele, com a internet “, explica.
Paulo também conta que outros compositores da época de Hermeto, como Tom Jobim e Edu Lobo, tinham suas composições com mais liberdade de criação, mas que não fizeram tanto sucesso.
“Ele (o Hermeto) me conta que ficou uma vez no mesmo hotel que o Tom Jobim quando foram receber o prêmio Sharp, e o Tom disse que admirava a liberdade de criação do Hermeto já que ele ainda se considerava preso a um sistema, dizendo sobre o mercado fonográfico da época. Mas esses compositores tem, sim, muitas composições maravilhosas do ‘lado b’ com total liberdade de criação e harmonização”, finaliza.
“Ele (o Hermeto) me conta que ficou uma vez no mesmo hotel que o Tom Jobim quando foram receber o prêmio Sharp, e o Tom disse que admirava a liberdade de criação do Hermeto já que ele ainda se considerava preso a um sistema, dizendo sobre o mercado fonográfico da época. Mas esses compositores tem, sim, muitas composições maravilhosas do ‘lado b’ com total liberdade de criação e harmonização”, finaliza.
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