O pedido de recuperação judicial da Wind Power Energia, empresa da argentina Impsa que fabrica turbinas no Brasil, ameaça um conjunto de parques eólicos avaliado em R$ 5 bilhões que está sendo construído por Furnas, segundo três pessoas com conhecimento direto sobre o assunto.
A Furnas, uma unidade da Eletrobras, cancelou pelo menos R$ 2 bilhões em contratos de fornecimento de turbinas após a WPE, braço brasileiro da Industrias Metalúrgicas Pescarmona SA, ou Impsa, entrou com pedido de recuperação judicial no fim do ano passado, segundo uma das pessoas, que pediu para não ser identificada porque os detalhes não são públicos. A Furnas também tinha planos de comprar da WPE turbinas para projetos que somariam 574 megawatts, perfazendo investimentos em um total de R$ 5 bilhões.
Para a Furnas e seus parceiros nos projetos, incluindo a J&F Investimentos e o Banco BMG SA, as alternativas são esperar que um novo fornecedor local atenda a demanda ou convencer um fornecedor estrangeiro para fabricar turbinas no Brasil para conseguir financiamento do governo. Qualquer uma das duas alternativas significaria perdas para a Furnas devido aos atrasos nos projetos, disse a fonte.
Uma terceira opção — importar as turbinas, abrindo mão dos incentivos estatais — foi descartada porque tornaria o projeto financeiramente inviável, disse a fonte.
“A Impsa era uma importante fornecedora de turbinas eólicas no Brasil”, disse Antonio Tovar, chefe de energias renováveis do BNDES, em entrevista no dia 12 de janeiro no Rio de Janeiro. “Quando ela entrou em recuperação judicial, desestruturou o mercado”.
Ismael Jadur, porta-voz da Impsa, não respondeu aos pedidos de comentários feitos por e-mail e telefone.
China Shipbuilding
Em e-mail respondendo a perguntas, a Furnas confirmou que pelo menos um de seus parques está em atraso e que está procurando turbinas de fabricantes já instalados no Brasil ou com intenção de produzir no país. A J&F e o BMG não responderam aos pedidos de comentário.
A Furnas já entrou em negociação com a chinesa China Shipbuilding Industry Co. para a instalação de uma fábrica de turbinas no Brasil, segundo uma das pessoas familiarizadas com a situação. A Furnas também solicitou à Aneel, reguladora do setor energético no Brasil, para estender o prazo de início de operação de alguns parques, disse a pessoa.
A Furnas, cuja empresa-mãe é formalmente conhecida como Centrais Elétricas Brasileiras SA, ganhou contratos de 462 megawatts em leilão realizado em 2013 para construir e operar parques no Rio Grande do Norte e no Ceará. Se os parques não estiverem operando no prazo, as empresas serão obrigadas a comprar energia no mercado spot e revender a clientes, provavelmente com prejuízo.
Os contratos de R$ 2 bilhões com a WPE têm seguro-garantia, segundo a pessoa. O investimento total de R$ 5 bilhões era destinado a oito parques com capacidade planejada de 1,04 gigawatt.
Em setembro, a Impsa tinha 1,5 gigawatt em turbinas contratadas no Brasil, representando 12 por cento do mercado, sendo a quarta maior fornecedora do país, segundo dados da Bloomberg New Energy Finance.
Fonte: Uol