No topo da hierarquia da facção Povo de Israel (PVI), grupo que surgiu há duas décadas nos presídios do Rio, está Avelino Gonçalves Lima, conhecido como Alvinho ou Vilão. Para comandar membros das 13 unidades do sistema prisional em que eles exercem influência (chamadas pelo grupo de “13 aldeias”), Avelino conta com a confiança de diversos presos. Entre os principais estão Marcelo Oliveira da Anunciação, o Tomate, Jailson dos Santos Barbosa, o Nem, e Ricardo Martins Luiz Dias Júnior, o Da Lua. Juntos, os principais chefes da quadrilha somam 156 anos de condenação.
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Marcelo Oliveira da Anunciação, o Tomate
Preso no Instituto Penal Benjamin de Moraes Filho, Tomate teria um cargo de prestígio elevado no grupo e na estrutura hierárquica do PVI. Condenado a 48 anos de prisão, ele possui periculosidade média e tem 12 anotações criminais por crimes de roubo, homicídio, furto, estelionato e estupro. Do total da pena, o detento já cumpriu 37 anos.
Foi dele que teria partido uma ordem para interromper os golpes de extorsão no Dia das Crianças, em 2022. O áudio que teria circulado em aparelhos dos presídios fluminense foram obtidos no curso de investigação da Seap:
“As 13 aldeias de Israel, hoje meia-noite para roubo, banco, para tudo, as 13 cadeias, pode transmitir essa mensagem nas 13 cadeias. Vilão mandou parar tudo, para quem pode e obedece quem tem juízo”.
Outro áudio dizia: “Alô, quartel da tropa de Israel, zero horas para tudo! Ordem do patrão, se pagar para ver já sabe, hein. Salve as criancinhas, um feliz Dia das Crianças para todo mundo, forte abraço!”
Marcelo Oliveira da Anunciação, o Tomate, está no Instituto Penal Benjamin de Moraes Filho
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Jailson dos Santos Barbosa, o Nem
Segundo relatório da Seap, Nem seria o responsável pela caixinha do grupo criminoso, cuidando do dinheiro da organização nos presídios. Ele foi condenado a 36 anos de prisão e já cumpriu cinco. Atualmente, está no Presídio Milton Dias Moreira, em Japeri. O relatório de investigação da Polícia Civil mostrou que Nem movimentou cerca de R$ 2,8 milhões e em movimentações financeiras.
Ricardo Luis Martins Dias Junior, o Da Lua
Em cargo de confiança direto estaria Ricardo Luis Martins Dias Junior, o Da Lua. Ele seria o braço direito de Alvinho. Até o momento, ele já foi condenado a 26 anos de prisão e cumpriu seis. Atualmente, Da Lua está na Cadeia Pública Inspetor José Costa Barros. Segundo dados da investigação da Polícia Civil, ele movimentou quase R$ 1,8 milhão.
As transferências bancárias do Da Lua e do Nem foram feitas em curtos espaços temporais e, segundo a polícia, “despidas de qualquer lastro patrimonial e consideradas completamente incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica e o potencial financeiro” dos presos.
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Avelino Gonçalves Lima, conhecido como Alvinho, chefe do Povo de Israel — Foto: Reprodução
Avelino Gonçalves Lima, o Vilão
Embora os presídios sejam o lugar onde esses presos cometem seus crimes, o PVI tem uma estrutura semelhante à de outras facções, com liderança central e representantes em cada unidade penal sob sua influência. No topo da hierarquia está Avelino Gonçalves Lima, conhecido como Alvinho ou Vilão. Ele foi preso pela primeira vez em 19 de julho de 1999. Em 2007, obteve decisão favorável para Visita Periódica Familiar (VPF) e não regressou, sendo recapturado dois anos depois.
Com nove anotações criminais, ele foi condenado a 46 anos e ainda responde a 13 processos disciplinares. Em junho do ano passado, foi transferido para o sistema penitenciário federal, mas retornou ao Rio em agosto de 2023, indo para a Cadeia Pública José Antônio de Costa Barros, em Gericinó. Ele é acusado de ser o mandante de uma rebelião em 2018, que resultou na morte de um detento, em represália à sua transferência.
A Seap suspeita que ele também esteja envolvido nas mortes de dois presos encontrados enforcados nas celas, em 2022. Relatos indicam que Alvinho ordenou os assassinatos após descobrir que os internos haviam planejado sequestrar a filha de uma liderança do Povo de Israel.
Entenda como funciona a facção
Além do falso sequestro, o grupo também faz ameaças a comerciantes e moradores em áreas dominadas por outras facções. As vítimas são forçadas a transferir dinheiro para contas de terceiros, que repassam os valores conforme ordens da chefia do grupo.
Investigações da Polícia Civil mostram que esse grupo movimentou cerca de R$ 67 milhões — em dois anos — com golpes por telefone. As operações financeiras foram detalhadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em um inquérito da Delegacia Antissequestro (DAS), aberto após uma pessoa do Rio Grande do Sul ter sido vítima da organização criminosa. O relatório foi usado pelo Ministério Público do Rio para pedir o bloqueio de bens de 84 pessoas e cinco empresas suspeitas de lavar o dinheiro para o Povo de Israel, que usaria firmas para ocultar recursos ilícitos. Entre elas, estão uma construtora, um atacadista, uma loja de bolsas e outros acessórios, uma joalheria e até uma lotérica em Apiacá, no Espírito Santo.
Além do falso sequestro, o grupo também faz ameaças a comerciantes e moradores em áreas dominadas por outras facções. As vítimas são forçadas a transferir dinheiro para contas de terceiros, que repassam os valores conforme ordens da chefia do grupo. Segundo a polícia, o lucro dos golpes é dividido em quatro partes: 30% para o “empresário”, responsável pelo celular; 30% para o “ladrão”, executor do golpe; 30% para o “laranja”, que recebe o dinheiro; e o restante vai para o caixa comum do PVI.
Em nota, a Seap informou que “tem intensificado as ações de combate da atuação desse grupo, que teve como resultado, nos últimos dois anos, na apreensão de 6.921 celulares nas 13 unidades de atuação do Povo de Israel. Também vale ressaltar que a Seap também reforçou o combate à ação de servidores da secretaria envolvidos em atividades ilícitas, tendo detido, entre 2022 e 2024, 50 policiais penais, o que resultou em 13 demissões.”
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