Com mais de quatro décadas de atuação na Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Perlingeiro, 79 anos, ocupou a presidência nos últimos três anos. Nesta sexta-feira, passa o bastão para Gabriel David, de 26 anos, ocupante do cargo de diretor de marketing na sua gestão. Perlingeiro diz que sai da presidência, mas não da entidade, onde passa ostentar o título de grande benemérito. Ele garante também que continua sendo a voz oficial na leitura da apuração das notas dos desfiles do Grupo Especial, como ocorre há 32 anos, e se coloca à disposição para permanecer como locutor dos eventos da Liga.
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— Gabriel (David) disse quem ninguém vai me tirar. Não pensa mudar a locução ainda. É uma demonstração de carinho e de reconhecimento.
Perlingeiro garantiu que não sofreu nenhuma pressão para deixar o cargo e que ele mesmo é que ja havia decidido que não disputaria reeleição. Para provar que não há ressentimento, cobriu o sucessor de elogios e o convidou para ser o entrevistado da centésima edição, nessa segunda-feira, às 21h, do seu podcast “Só se for agora”, transmitido pelo seu canal no YouTube, que soma quase 1 milhão de visualizações. As entrevistas também são transmitidas pela TV Max. A chapa encabeçada por Gabriel David foi apresentada na noite de quinta-feira e aclamada na reunião desta sexta-feira. Na entrevista, a seguir, Perlingeiro faz um balanço de sua gestão. “Saio da presidência, mas não saio da Liga”, garante.
Hoje é o seu último dia como presidente da Liga, não é?
Como presidente sim. Eu gosto de frisar isso porque as pessoas dizem: “ele está indo embora”. Não estou indo embora coisa nenhuma. Estou lá há mais de 40 anos. Sou um dos mais antigos na casa, junto com uns três ou mais que podem ter o mesmo tempo que eu. Não são 40 dias. Já sou benemérito e agora passo a grande benemérito. É um degrau a mais, talvez o último.
Qual é a diferença e qual o papel do grande benemérito?
Para ser um grande benemérito tem que ser benemérito há mais de dez anos, além de ter serviços prestados à Liga. É só um título honorífico, que se dá como se fosse um diploma ou graduação para aqueles que fizeram serviços relevantes. Saio da presidência, mas não saio da Liga.
Como é o processo de sucessão?
Na história da Liga nunca teve disputa para presidência. Uma chapa é apresentada e ela é a aclamada pela maioria ou por sua totalidade. Poderia ser rejeitada também, mas isso nunca aconteceu. Então, eu acho que a partir desta sexta-feira a Liga terá uma nova presidência e eu confio muito no trabalho do Gabriel. Ele é um menino muito preparado. Chamo de menino porque tem 26 anos. Vejo que ele é muito preparado, no marketing é muito atualizado e tem um relacionamento muito bom com as autoridades, tanto municipal como estadual e federal, além de empresários.
Você é uma espécie de marca registrada da apuração dos desfiles do Grupo Especial do Rio. Vai continuar como locutor oficial, fazendo a leitura das notas?
Já foi tocado o assunto e o próprio Gabriel falou que ninguém vai me tirar da locução da apuração. Disse quem nem pensa em mudar. Vejo como uma forma carinhosa e gentil de reconhecimento. Ninguém engana ninguém há 32 anos (tempo que ele faz a leitura das notas ). Essa é a grande realidade.
A possibilidade de Gabriel David assumir a presidência da Liga já vem sendo levantada há algum tempo. Você sofreu alguma pressão?
É uma troca natural. Eu não tinha pretensão de renovação (do mandato) em momento algum. Para mim foi um desafio, uma missão.
Qual o balanço você faz de sua gestão? como você recebeu e entrega a Liga?
Peguei num péssimo momento, em plena pandemia. Não sabia nem se ia ter carnaval. Tinha R$ 4,6 milhões negativos e um caixa de R$ 7 mil. Não estou culpando meu antecessor (Jorge Castanheira). Ele pegou um momento péssimo de pandemia e eu entrei no final, mas ainda com todos os resquícios e preocupações. Eu falei com o prefeito vai ser agora ou deixa (o carnaval) para o ano que vem e encontrei uma data em abril. Sentamos com os fornecedores, mais de 50, e negociei redução de contratos para que conseguisse pagar. Todos aceitaram de imediato e tivermos uma redução de mais de 15% (dos custos). Isso me deu a certeza de o Rio pode ter um carnaval fora de época, talvez em julho, sem disputa. Para turistas. mas isso é outra conversa. Trouxemos 94% de cariocas para a Sapucaí, com exceção de alguns paulistas, mineiros e capixabas. Do nordeste não veio quase ninguém. Foi um carnaval praticamente voltado para o Rio de Janeiro e um tremendo sucesso. E conseguimos ainda deixar R$ 1 milhão em caixa. E nos dois anos seguintes melhoramos o formato. Esse ano deixo mais de R$ 10 milhões em caixa. É extremamento gratificante. Saio com o sentimento de dever cumprido.
Com grande benemérito qual sua participação na Liesa de agora em diante?
Só não sou mais presidente, mas continua sendo o que sempre fui. Estou disponível para apresentar os eventos, participar de produção. Enfim, já disse ao Gabriel que pode contar comigo naquilo que precisar.
O que você diria que vai ficar como marca de sua gestão?
Tem mitas marcas. A gente deixa um legado muito grande. Primeiro, foi a parte financeira, que ficou saneada. No mais, fizemos melhoras na Cidade do Samba. Fico muito orgulhoso de consegui botar lá uma unidade do Corpo de Bombeiros, que é de suma importância, pois é uma área que tem muitos inflamáveis. Tivemos um incêndio grande em 2011. Fizemos também a construção de um auditório (para reuniões plenárias). Tem também os minidesfiles e a transferência da apuração para a Cidade do samba, que era um desejo antigo meu.
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