O assassinato a facadas da acrobata argentina Florencia Aranguren, na trilha para a praia de José Gonçalves, em Búzios, na última quarta-feira, motivou um protesto em frente à prefeitura da cidade da Região dos Lagos. O ato, realizado na tarde desta sexta-feira, reuniu dezenas de pessoas — grupo majoritariamente feminino — que seguravam cartazes fazendo referência a Florencia, assim como a outras mulheres mortas na cidade.
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Pelo Centro de Búzios, os manifestantes batiam palmas e pediam mais segurança nas ruas da cidade. Um dos gritos entoados pelo grupo era “a violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer”.
Por volta das 15h30, o nome de mulheres mortas na cidade foram pronunciados em voz alta, acompanhado da palavra “presente” ao final. Entre os cartazes, um trazia a mensagem “#SomosTodasFlorencia”, enquanto outro — em espanhol — pedia justiça, com a mensagem para que todas sejam “livres, sem medo”.
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Pelas redes sociais, a Frente Feminista de Búzios compartilhou a publicação convocando mulheres e homens a se concentrarem em frente à prefeitura de Búzios. “Pela vida e segurança de tod@s, exigimos que nos protejam!”, dizia o cartaz.
Durante o ato, as reivindicações, para além de mais segurança nas ruas, especialmente às mulheres, eram de iluminação pública em lugares afastados do centro e rotas de vans ampliadas, especialmente para atender mulheres que trabalham à noite. Procurada, a prefeitura de Búzios não respondeu até a publicação desta reportagem.
Segundo a Polícia Militar, o 25º BPM (Cabo Frio) “tem aplicado esforços contínuos para a manutenção da segurança e da ordem em toda a região de atuação”. O policiamento, segundo a corporação, foi intensificado no local em que Florencia foi morta, assim como em outras praias da cidade.
Luta corporal com criminoso
A argentina estava em Búzios há três dias quando foi morta. Florencia tinha saído da praia de José Gonçalves, que fica em uma área isolada, cercada pela mata, após um mergulho, e seu corpo foi encontrado na trilha por volta das 7h.
O laudo de necropsia, obtido com exclusividade pelo EXTRA, mostra que a maior parte das lesões — 18 facadas — estavam no pescoço da vítima. A hemorragia externa que levou a argentina à morte foi causada pelos golpes na artéria carótida e na veia jugular direita.
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Seu corpo também tinha marcas que indicavam que Florencia teria tentado resistir às agressões, entrando em luta corporal com seu assassino.
Ficha criminal do suspeito
O lavrador Carlos José de França, , suspeito de ter matado a argentina Florencia Aranguren, de 31 anos, em Búzios, na Região dos Lagos, tem outras cinco passagens pela polícia do Rio. Ele já havia sido condenado pela Justiça de Pernambuco a 15 anos de prisão por estupro e roubo a uma adolescente no estado nordestino. Carlos José tem 32 anos e é natural de Quipapá, cidade da Zona da Mata de Pernambuco, mas tinha endereço residencial em Itaperuna, no Norte Fluminense.
Carlos José de França, suspeito de ter matado a argentina Florencia Aranguren, de 31 anos, em Búzios — Foto: Reprodução
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Em sua ficha, consta que ele trabalhava como lavrador e não é alfabetizado. Pelo estupro da adolescente, recebeu pena de 15 anos, seis meses e 9 dias em regime fechado, depois convertido em semiaberto.
O crime aconteceu em março de 2009. Por volta das 21h, na região do Matadouro Público da cidade de Quipapá, Carlos José abordou a adolescente e duas amigas, com uma arma de fogo. Elas voltavam de um ensaio na escola em que estudavam na época. Sob ameaça, ele exigiu o celular e dinheiro da menina, que tinha 15 anos. A vítima entregou o aparelho de telefone e disse a ele que não tinha dinheiro. Insatisfeito, ele a levou para um local desconhecido, onde a estuprou.
Na sentença que condenou Carlos José, o juiz Eduardo José Loureiro Burichel destacou o relato da vítima. Segundo texto, a jovem afirmou que Carlos José surgiu já agarrando seu pescoço e apontando a arma para sua cabeça. Assustadas, as amigas da jovem gritaram e correram do local, e a vítima foi conduzida à força em direção a um matagal afastado e totalmente escuro, na direção da linha do trem. Sob a mira do revólver, ele ordenou que ela tirasse a roupa, e praticou os atos de violência sexual.
Vítima foi observada ‘sem parar’
A acrobata Florencia Aranguren, argentina morta a facadas em Búzios, na Região dos Lagos, na última quarta-feira, era observada por dois homens — um de moto e outro de bicicleta — enquanto se banhava na Praia de José Gonçalves. Quem viu a cena foi um morador que estava no local, que é isolado e cercado pela mata nativa, no mesmo dia e horário em que a vítima foi assassinada. Segundo a testemunha, não era possível prever que o desfecho seria brutal.
— Eles ficaram olhando ela tomar banho. O (homem) que estava de moto foi embora quando percebeu que eu estava reparando neles, mas o de bicicleta a seguiu assim que ela entrou na trilha de volta. Ele estava nervoso e ficava de longe olhando sem parar para ela. Na hora, achei estranho, mas não imaginava que algo assim aconteceria — contou o morador de Búzios, que preferiu não se identificar.
Argentina Florencia Aranguren foi morta na trilha para a Praia de José Gonçalves, em Búzios — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Repercussão na Argentina: ‘Horror no Brasil’
Jornais argentinos repercutiram o assassinato de Florencia Aranguren, de 31 anos, nesta quarta-feira, em Búzios, na Região dos Lagos. No jornal argentino “Clarín”, a manchete da quarta-feira foi: “Horror no Brasil: uma argentina foi morta a facadas em Búzios”.
Outros veículos, como o jornal “La Nación”, descreveram o crime como um “choque”. O caso também foi repercutido pelos jornais “El Diario” e “Infobae”, que lembrou outro assassinato de um argentino no Brasil. Em fevereiro de 2019, Daniel Barizone, de 65 anos, caminhava com a mulher em uma praia de Salvador, na Bahia, quando foi vítima de um latrocínio.