O jornalista americano Glenn Greeewald declarou na quarta-feira que seu livro, no qual descreve os acontecimentos sobre a divulgação de documentos secretos pelo ex-analista da inteligência Edward Snowden, mostra que o ex-consultor não era imprudente ou traidor.
Em uma apresentação em Washington, Greenwald afirmou que o ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) classificava cuidadosamente o material em artigos que sentia que deveriam se tornar públicos e naqueles nos quais pediu aos jornalistas que contactou que decidissem sobre a conveniência de publicá-los.
“Havia outra informação que insistiu que não deveria ser publicada”, declarou Greenwald a um grupo como parte da viagem de promoção do livro, “No Place To Hide”, publicado no início da semana.
Snowden reteve informação que considerava prejudicial para a segurança dos Estados Unidos ou de pessoas inocentes, disse Greenwald.
“Ele não se apresentou com o objetivo de prejudicar os Estados Unidos”, disse o jornalista, que dirigiu a equipe ganhadora do Prêmio Pulitzer no jornal The Guardian, que publicou a história sobre a vigilância cibernética e telefônica da NSA, com base nos arquivos do ex-analista.
“Ele poderia ter vendido estes documentos por dezenas de milhares de dólares”, indicou o jornalista.
E Snowden foi firme em seu desejo de ser identificado como a fonte, embora soubesse que isso significaria a prisão. Greenwald declarou que passou um longo tempo tentando entender as motivações de Snowden e no início era “esmagado pela dissonância e pela confusão”, mas finalmente determinou que Snowden decidiu divulgar estes documentos como um ato de consciência.
Relatórios ‘tremendamente falsos’
Greenwald ofereceu uma visão dura sobre a resposta de muitos meios de comunicação convencionais aos relatórios iniciais sobre Snowden e os documentos vazados.
“Grande parte do que foi dito é tremendamente falso”, declarou à plateia em uma sinagoga no centro de Washington.
Ele declarou que alguns analistas dos meios de comunicação, possivelmente influenciados pelos funcionários do governo americano, afirmaram inicialmente que Snowden era um espião chinês e que quando ele se apresentou na Rússia “estas mesmas pessoas o acusaram de ser um agente (do presidente) Vladimir Putin”.
Outras acusaram Snowden de ser “um narcisista em busca de fama”, acrescentou Greenwald.
“Em 24 horas, todos os jornalistas que não conheciam Edward Snowden puderam analisá-lo”, brincou Greenwald.
“E os atores que desempenham o papel dos jornalistas na televisão estavam pedindo que eu fosse o primeiro a fazer uma entrevista com ele”, acrescentou.
Greenwald declarou que o problema com muitos meios de comunicação é que “amplificam sem pensar pretensões do governo”, sem tentar discernir os fatos.
Assim, sustentou que em vista das revelações que demonstram que muitas declarações de funcionários do governo eram falsas, “devemos ter pelo menos um pouco de ceticismo quando estas alegações são feitas”.
Greenwald disse que serão feitas mais revelações dos arquivos de Snowden, mas se negou a oferecer qualquer informação específica.
As revelações sobre o programa mundial de espionagem cibernética e telefônica deixaram o governo americano em uma situação delicada e criaram vários problemas diplomáticos com seus países aliados, furiosos ao descobrir que Washington espionava inclusive as conversas particulares de alguns de seus líderes.
O debate foi tamanho que obrigou o governo a revisar e modificar suas práticas de coleta de dados.
As afirmações de Greenwald foram feitas no mesmo dia em que os estúdios Sony Pictures Entertainment anunciaram ter comprado os direitos do livro do jornalista sobre Snowden, “No Place to Hide”, para uma adaptarão ao cinema.
Snowden, acusado de espionagem em seu país, recebeu asilo da Rússia em agosto.
Fonte: EM