No Brasil, violência crescente contra a mídia e juízes impondo multas e obrigando blogueiros e jornais a retirar material publicado. Na Argentina, a publicidade oficial sumindo dos jornais da oposição. No Equador, punições descabidas a matérias que denunciam erros do governo. Na Venezuela, a proibição de importação de papel para os jornais impressos. É com esse pano de fundo que a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que representa cerca de 1.300 publicações no continente, abre nesta sexta-feira sua Reunião de Meio de Ano em Bridgetown, capital de Barbados, no Caribe.
“Será um momento especial para que todos possamos refletir sobre os abusos, a violência e as restrições à liberdade de imprensa e à democracia no continente”, resumiu Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ). ‘Vamos ver, com mais detalhes, o que acontece em países como Equador, Venezuela, Argentina”, comentou.
Os organizadores esperam, no elegante hotel Hilton Barbados, em Bridgetown, cerca de 200 jornalistas, editores e convidados, da América Latina, EUA e Europa para os quatro dias de debates. O encontro termina na segunda-feira com a eleição de um novo presidente da SIP, que sucederá a atual titular, a jornalista americana Elizabeth Ballantine.
Temas novos. Se críticas a governos autoritários da América Latina são comuns nessas reuniões semestrais, em Barbados a agenda abre espaço para temas menos comuns. Por exemplo, uma análise sobre as restrições enfrentadas por jornalistas nos Estados Unidos, ou para a investida do governo britânico contra o jornal The Guardian, que resultou na aprovação de uma espécie de autorregulação, a Royal Chart (Carta Real). Especialistas vão discutir, também, a questão da concentração dos grupos de comunicação nas mãos de poucas empresas – ou, em outros casos, do Estado.
Neste primeiro dia, porém, o tom dos encontros é eminentemente técnico e voltado para as novas mídias. Um seminário, de manhã, estudará a experiência do grupo espanhol Prisa (controlador do El País, entre outros), que se vale de vídeos profissionais e de leitores, no jornal Ás, para ampliar seu público na internet. Outros painéis discutirão as tendências na publicidade digital e o futuro dos dispositivos móveis.
Como eixo dos painéis e debates, a partir de amanhã (5), mais de 20 representantes de associações nacionais apresentarão relatórios sobre a situação da mídia em seus países. O do Brasil deverá ser lido amanhã, por Carlos Muller, em nome da ANJ. Delegados da Venezuela e da Argentina deverão apresentar os depoimentos mais contundentes.
Na Venezuela, o governo tenta calar os jornais proibindo a importação de papel, mas um grupo colombiano, o Andarios, ofereceu a matéria-prima aos colegas do país vizinho – e a dúvida é se o governo Nicolás Maduro tentará impedir a chegada do material aos seus portos.
Na Argentina, mais de 200 violações de direitos em 2013, contra 239 pessoas e 31 empresas, representaram um aumento de 13% sobre o ano anterior. “Este é o segundo ano seguido em que batemos os recordes negativos”, avaliou Fábio Ladetto, no Informe de Liberdade de Expressão 2013.
Fonte: EM